Negociadores do BRICS encaminham declarações nos temas de saúde, mudança do clima e IA
Com foco em iniciativas de impacto na vida das pessoas, a reunião de negociadores políticos aponta caminhos para a Cúpula de Líderes. Parceria para eliminar doenças socialmente determinadas ganha força

Protagonismo para temas concretos e de impacto direto na vida das pessoas como combate à fome e à pobreza. Esta é a linha da presidência brasileira do BRICS, que balizou as principais resoluções da terceira e última Reunião de Sherpas do grupo nesta semana. A estratégia do Brasil busca reequilibrar a agenda internacional, frequentemente centrada em disputas geopolíticas, para incluir prioridades como erradicação da pobreza, segurança alimentar e fortalecimento de sistemas de saúde.
A reunião de negociadores políticos das nações do Sul Global, que durou cinco dias, no Rio de Janeiro (RJ), encerrou nesta sexta-feira, 4 de julho, com uma avaliações positivas por parte da presidência brasileira em três áreas: cooperação em saúde para eliminação de doenças socialmente determinadas, inteligência artificial (IA) e combate à mudança do clima. O encontro consolidou negociações que devem resultar em declarações específicas sobre as pautas.
“O esforço brasileiro é trazer estes temas para o centro da agenda desses grandes grupos. Na presidência a gente tem a possibilidade de fazer isso. Como fizemos no G20, com o lançamento da Aliança Global Contra a Fome e a Pobreza, e agora fazemos com o lançamento da parceria para a eliminação das doenças que a gente chama as doenças da pobreza - tuberculose, hanseníase, malária, dengue, febre amarela”, colocou o embaixador Mauricio Lyrio, sherpa brasileiro e coordenador dos trabalhos.
Outro avanço destacado toca à institucionalidade e formalização de processos do grupo, uma das prioridades da coordenação brasileira neste ano, sobretudo considerando a recente expansão do grupo a novos países membros e também parceiros. Os sherpas progrediram quanto a nova escala de presidência rotativa e a forma de participação dos países parceiros, que com a recente entrada do Vietnã somam dez nações neste status.
Rumo à COP30
Os acordos quanto à exigência de ações concretas e ambiciosos pelo combate à mudança do clima tiveram destacada importância não apenas pela inadiabilidade do tópico na agenda internacional, mas também por ser o Brasil, ainda neste ano, a presidir, também, a 30ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP30). O foco está no ponto de financiamento climático, o qual, na visão dos países do Sul Global, precisa ser pensado a partir das diferenciações em responsabilidade e condição monetária entre países desenvolvidos e em desenvolvimento. “A ideia geral é de que é preciso ter mais recursos, inclusive dos países ricos, que foram os que mais emitiram gases de efeito estufa. Que precisam cooperar no financiamento da transição dos países que ainda não se desenvolveram plenamente”, disse Lyrio.
Reuniões anteriores
A primeira Reunião de Sherpas, em fevereiro, no Palácio Itamaraty, Brasília (DF), foi marcada pela aprovação unânime dos temas centrais propostos pelo Brasil Destaque ao ponto de revisão da Parceria Estratégica na Área Econômica, um plano de cinco anos que passa por renovação sob a liderança brasileira. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou da reunião, na qual salientou a importância do multilateralismo a uma agenda global mais equilibrada.
O destaque da segunda reunião, já no Rio de Janeiro (RJ), em abril, esteve na participação inédita da sociedade civil. A sessão conjunta entre sherpas e lideranças do pilar "People-to-People" (P2P) do BRICS representou uma mudança significativa na forma como o grupo incorpora as demandas sociais em seu processo decisório e resultou em consensos como de que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) deve ser principal agente de financiamento da industrialização do Sul Global.