Mulheres no Comércio Exterior: Avanços e Desafios à Vista
Mônica Monteiro • BRICS WBA (Women's Business Alliance) Global Chair

O estudo do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), intitulado "Mulheres no Comércio Exterior – uma análise para o Brasil", divulgado em março de 2025, traz à tona dados reveladores sobre a participação feminina no setor de comércio exterior brasileiro. O documento destaca alguns avanços importantes, mas também aponta para desafios significativos que ainda precisam ser enfrentados.
Segundo o estudo, houve um aumento na participação feminina em empresas exportadoras, de 29,2% para 31,8%, e em importadoras, de 32,5% para 34,7%. No entanto, apenas 14,5% das exportadoras possuem maioria feminina no quadro societário, e só 2% do total exportado pelo Brasil provêm de empresas lideradas por mulheres.
Esses números, mesmo representando progressos, evidenciam que há muito espaço para maior equidade de gênero no comércio exterior. No mercado interno, o crescimento da participação feminina foi mais modesto, passando de 40% para 40,6%. Notavelmente, cerca de 3 milhões de mulheres trabalhavam em empresas exportadoras ou importadoras em 2022, o que demonstra o potencial feminino no setor.
É fato que as empresas de comércio exterior pagam salários mais altos às mulheres em comparação ao mercado interno, ainda assim as disparidades são evidentes, com as mulheres recebendo entre 23% e 27% a menos que os homens. Em cargos de direção, a diferença salarial é menor no comércio exterior (26%) comparado ao mercado doméstico (53%). Além disso, apenas 22,5% das mulheres ocupam cargos de liderança nas exportadoras e 22,6% nas importadoras, em contraste com 38,6% nas empresas voltadas ao mercado interno.
"Elas Exportam"
Para reverter esse cenário, o MDIC, em parceria com a ApexBrasil, lançou o programa "Elas Exportam", voltado para incentivar o empreendedorismo feminino nas exportações. O programa se junta a iniciativas da Confederação Nacional da Indústria (CNI), que promove rodadas de negócios, e do CMEC (Conselho da Mulher Empreendedora e da Cultura), que capacita e fornece informações através da CECIEX (Conselho Brasileiro das Empresas Comerciais Importadoras e Exportadoras).
A relação entre agentes públicos e privados não deve ser vista como lado oposto, mas como parte de uma unidade, que visa o desenvolvimento integral do Brasil. Como a CNI ressalta, o Estado sempre será o sócio de qualquer iniciativa privada — regulando, incentivando, fiscalizando e, muitas vezes, investindo. O Estado está presente antes, durante e depois do negócio, seja criando ambiente, seja cobrando retorno.
Pensar que empresa e governo são forças que se enfrentam é anacrônico. Eles se complementam, moldam-se mutuamente, e precisam caminhar em sinergia. Quando um deles rema contra, o país estagna. Quando os dois se escutam e se alinham, o Brasil acelera, chegando mais longe. Embora tenhamos alcançado progressos, ainda há um longo caminho a percorrer para garantir a equidade de gênero no comércio exterior brasileiro.
A inclusão de mulheres nos negócios é tema da WBA, a Women’s Business Alliance, do BRICS, a qual lidero globalmente em 2025. Em julho, no Rio de Janeiro, nosso Fórum de Negócios, em parceria com o Conselho Empresarial do BRICS, ambos secretariados pela CNI, será um ponto focal de ideias e busca de construções coletivas com vistas à ampliação dos espaços de sinergia justa, equitativa e visando ao desenvolvimento sustentável. As inscrições estão abertas e podem ser feitas por empresas e cidadãos brasileiros e estrangeiros. Uma oportunidade de mobilizar todos os atores envolvidos a se unirem em prol de um futuro mais inclusivo.
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