Boletim BRICS Brasil #25 - Brasil no BRICS promove diálogo inédito para alinhar políticas a demandas populares
Pela primeira vez no BRICS, a sociedade civil apresenta propostas diretas aos sherpas. Entre os destaques o reforço ao Banco de Desenvolvimento para industrialização, políticas sociais, igualdade de gênero com espaço ampliado para mulheres e voz ativa da juventude. Iniciativa brasileira abre novo capítulo na governança do grupo. Ouça a reportagem especial e saiba mais.

Reportagem Leandro Molina / leandro.molina@presidencia.gov.br
Repórter: O Palácio do Itamaraty, no Rio de Janeiro, foi palco de um marco na história do BRICS. Pela primeira vez desde a criação do grupo, representantes da sociedade civil tiveram espaço formal para apresentar propostas diretamente aos principais negociadores dos países-membros durante a segunda reunião de sherpas do grupo. A sessão conjunta representa uma mudança significativa na forma como o grupo incorpora as demandas da sociedade civil em seu processo decisório, como destaca Mauricio Lyrio, embaixador e sherpa do Brasil no BRICS.
Mauricio Lyrio: É uma oportunidade para que nós sherpas ouçamos o que a sociedade tem a dizer sobre nosso trabalho e como melhorar esse trabalho para que os resultados das reuniões do BRICS sejam mais convergentes com o que a população quer.
Repórter: O formato inovador permitiu que grupos representativos da sociedade civil apresentassem suas demandas diretamente aos negociadores. Conforme Gustavo Westmann, chefe da assessoria especial de assuntos internacionais da Secretaria-Geral da Presidência da República, foram selecionados dez grupos, com critérios que combinavam representatividade institucional e alinhamento com as prioridades da presidência brasileira.
Gustavo Westmann: Basicamente essa é uma oportunidade para que representantes e atores não governamentais, mas que atuam ativamente num dos pilares do BRICS, que é o pilar People to People, possam não apenas dialogar com os negociadores, os sherpas, mas também enviar propostas concretas para o reposicionamento do BRICS nessa nova ordem global repleta de complexidades.
Repórter: Entre os participantes estava João Pedro Stédile, coordenador nacional do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra (MST). Ele destacou a importância do encontro no Rio para apresentar as propostas e estabelecer um canal de diálogo direto com os representantes dos governos.
João Pedro Stédile: O BRICS é muito mais do que um governo ou as ideologias dos governos. O BRICS tem que ser um espaço de articulação de países, e países entendido a nação. Portanto, extrapola o governo, deve incluir parlamentos, academia, universidades, movimentos sindicais e, claro, nós dos movimentos populares.
Repórter: Sobre o Novo Banco de Desenvolvimento (NBD), houve consenso dos representantes da sociedade civil que a instituição financeira precisa ser o principal agente de financiamento da industrialização do Sul Global. O argumento é que sem indústria não há como reduzir a pobreza ou financiar agricultura familiar, por exemplo. Constanza Neri, da Confederação Nacional da Indústria (CNI) e da Aliança de Mulheres Empresárias, destacou a necessidade de maior participação feminina nas negociações do BRICS.
Constanza Neri: Se nós formos olhar a parte do avanço e do que o setor privado defende para o aprofundamento da agenda econômica no BRICS, virá muito por essa agenda liderada pelas mulheres empresárias.
Repórter: Nilson Duarte, presidente da União Geral dos Trabalhadores do Rio de Janeiro, representando os sindicatos, pediu maior atenção às questões sociais.
Nilson Duarte: Reiteramos a necessidade de formalizar o Fórum Sindical do BRICS como um espaço permanente de diálogo social, estruturado, com participação regular nos mecanismos decisórios do bloco.
Repórter: Eduardo Tadeu, diretor executivo da Associação Brasileira de Municípios, trouxe a perspectiva local.
Eduardo Tadeu: Os municípios precisam de apoio técnico e financeiro dos países e do BRICS para poder realizar essas políticas públicas da melhor maneira possível.
Repórter: O sherpa da África do Sul, embaixador Xolisa Mabhongo, falou do diálogo inédito entre sociedade civil e negociadores durante a reunião no Rio de Janeiro.
Xolisa Mabhongo: Tivemos aqui um encontro inédito entre cidades, sociedade civil e os sherpas. Vimos a paixão dos líderes sociais aqui. O Brasil mostra como a sociedade deve ser valorizada.
Repórter: O governo brasileiro reforçou que o diálogo com a sociedade civil continuará ao longo de toda a presidência, com expectativa de resultados concretos na Cúpula de Líderes que ocorrerá nos dias 6 e 7 de julho, também no Rio de Janeiro.