BRICS é um canal de diálogo e espaço para defender mundo multipolar
BRICS é responsável por 24% das trocas comerciais do mundo e representa 39% do Produto Interno Bruto (PIB) mundial. Especialistas em relações internacionais destacam que a potência econômica do grupo contribuiu para sua importância política enquanto foro de articulação e cooperação, o que fortalece um mundo multipolar e menos desigual.

Por Thayara Martins / thayara.martins@presidencia.gov.br
Os membros do BRICS desempenham um papel importante nas redes globais de comércio e que só têm crescido desde a primeira Reunião de Cúpula em 2009. De acordo com a Comexvis, uma plataforma interativa de dados da Secretaria de Comércio Exterior do Ministério do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), em 2005, o total exportado por membros do BRICS foi de 1,7 trilhão de dólares. Já em 2021, o total exportado pelo grupo de países chegou a 5,7 trilhões, o que representa um crescimento de 229%.
Além de grandes exportadores e importadores, com frequência são destino das exportações uns dos outros, refletindo a cooperação econômica dentro do grupo. Dados da Comexvis, abarcando o período entre 2006 e 2021, demonstram que a China permaneceu como o maior exportador de bens dentro do BRICS, a Rússia manteve-se em segundo lugar, os Emirados Árabes Unidos estão na 3ª posição, e a Índia, na 4ª. Entre os principais produtos comercializados estão - petróleo, gás natural, minérios e metais, máquinas e equipamentos elétricos, cereais, carne e café.
Para a professora Ana Flávia Granja e Barros do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB) e da Escola Superior de Defesa (ESD), o BRICS é um grupo extremamente relevante para as economias emergentes, não só por conta de todo esse fluxo comercial, mas também porque é um canal de diálogo e um espaço para defender o multilateralismo em um momento em que o mundo vive uma crise em termos de cooperação internacional.
“O Brasil tem um interesse muito claro de participação no BRICS porque são grandes economias, países que têm uma capacidade de interlocução muito forte, e o Brasil sempre foi um dos defensores de uma ordem multipolar, de um diálogo aberto e parte desse mecanismo implica conversar com todos os países que quiserem conversar com o Brasil”, afirmou Granja.
Comércio com o uso de moeda local
Quanto à discussão em curso sobre a utilização de moedas locais nas transações comerciais entre os países dos BRICS, o professor Haroldo Ramanzini Júnior, do Instituto de Relações Internacionais da Universidade de Brasília (UnB), acredita que essa é uma medida para facilitar ainda mais o comércio e os investimentos. “Na minha visão, a utilização de moedas locais para as transações comerciais entre os países tem o objetivo de ampliar o intercâmbio comercial. Não é um esforço contra nenhum país, inclusive, o Brasil tem esforços similares no âmbito do Mercosul”, defendeu o professor.
Segundo o professor Haroldo, os benefícios são a possibilidade de ampliação do comércio e dos investimentos intra-BRICS mediante a redução dos custos de operações comerciais e financeiras. Há um potencial de crescimento do comércio intra-BRICS e, para isso, é necessário avançar em medidas de facilitação de comércio e de cooperação regulatória, e a utilização de moedas locais é um dos esforços nessa direção. No caso do Brasil, já há um forte comércio com a China, mas há espaço para ampliação do comércio com os outros membros do BRICS.
O poder da articulação
O crescente desenvolvimento econômico dos países do BRICS, sobretudo da China entre o final do século 20 e início do 21, proporcionaram mais poder de voz na política internacional e de influência no jogo político, explica a professora Ana Flávia Granja e Barros. Para ela, o grupo tem conseguido alcançar alguns consensos, no entanto, a articulação política consiste em longas negociações e muita pressão para se chegar a um entendimento e, na atual realidade, tem se tornado uma tarefa que exige mais dos atores envolvidos.
O professor Haroldo Ramanzini enfatiza a importância para o grupo de buscar a reforma das instituições financeiras internacionais, como o Fundo Monetário Internacional (FMI) e o Banco Mundial, para que a governança dessas instituições seja mais representativa.
Ele argumenta que, com a nova composição do BRICS e a inclusão da Indonésia, é possível perceber uma convergência entre os países no sentido de trabalhar para construir uma ordem mundial menos desigual e mais multipolar.
“Esse grande amálgama do BRICS se traduz em uma agenda propositiva em relação à necessidade de reformas na governança global que é uma necessidade urgente. Porque cada vez mais a gente vê a dificuldade das atuais instituições internacionais para oferecer respostas aos principais problemas do mundo hoje”, defende o professor.