Grupo de Trabalho do BRICS debate como segurança energética e transição sustentável podem avançar juntas
O Grupo sobre Energia vai produzir dois relatórios, um sobre combustíveis novos e sustentáveis e outro que trata do acesso a serviços energéticos. O Programa Luz para Todos, do governo federal, é considerado uma boa prática que pode ser compartilhada com países do BRICS. Outro exemplo é a produção de biocombustíveis.

Por Thayara Martins | thayara.martins@presidencia.gov.br
Não existe contradição entre segurança energética e transição energética, os dois temas são complementares na visão da assessora especial do Ministro de Minas e Energia, Mariana Espécie. Ou seja, enquanto novas soluções são exploradas para tornar o setor de energia mais sustentável, a sociedade, a indústria, os meios de transportes seguem necessitando de eletricidade e combustíveis. Mariana Espécie concedeu uma coletiva de imprensa ao lado do diretor do Departamento de Energia do Itamaraty, João Marcos Paes Leme, nesta terça-feira (25), após a primeira Reunião de Energia do BRICS em Brasília.
Segundo Mariana, o Brasil está bem posicionado na transição energética com uma matriz elétrica quase 90% renovável e, ao mesmo tempo, é um país que oferece segurança para a população em termos de abastecimento de energia. “Chega energia na casa das pessoas, mas isso não significa que eventualmente eu tenha que lançar mão, por exemplo, de utilizar algum grau de combustível fóssil para garantir o suprimento. Principalmente onde o fornecimento da energia elétrica vem de parques eólicos e paineis fotovoltaicos, que apresentam uma variação muito grande na geração de energia”, afirmou.
Para Mariana Espécie, há um avanço à medida em que novas soluções se mostram implementáveis e utilizáveis, pois em muitos contextos a questão do custo vai ter um peso importante. Segundo ela, sem dúvida alguma, o diesel e a gasolina ainda são mais baratos. “Para a população em geral, é muito mais fácil adotar um veículo flex do que comprar um veículo elétrico, por exemplo”, disse. Ela diz que a transição energética e a segurança energética andam lado a lado, e devem seguir avançando juntas, e citou que o Brasil conseguiu essa complementaridade ao adotar os biocombustíveis tendo em vista a relação custo e benefício.
O diretor João Marcos Paes Leme lembrou que um dos Objetivos de Desenvolvimento Sustentável (ODS) da Organização das Nações Unidas (ONU) prevê o fornecimento de energia às pessoas. Segundo ele, o fornecimento deve observar os eixos econômico, social e ambiental. Para João Marcos, o dilema segurança versus transição tem que ser visto por esse ângulo. “O Brasil é prova de que não há contradição nisso, você vai ter que encontrar gradualmente soluções de descarbonização tanto pela questão da mudança do clima, quanto da própria finitude dos combustíveis que, hoje em dia, são a base dos setores energéticos em muitos países. E conforme você aumenta a produção de combustíveis sustentáveis naturalmente vai reduzir a demanda por combustíveis fósseis e essa conciliação gera oportunidades econômicas para países como o nosso”, defendeu.
Troca de experiências

O Ministério de Minas e Energia (MME) coordena as atividades da cooperação de energia do BRICS em parceria com o Ministério das Relações Exteriores (MRE). Para documentar as estratégias, o Grupo de Trabalho sobre Energia do BRICS vai produzir dois relatórios, um sobre combustíveis novos e sustentáveis e outro que trata do acesso a serviços energéticos, que serão aprovados durante a reunião de ministros de energia do BRICS, que ocorrerá em maio.
O relatório de acesso a serviços energéticos pretende ser um repositório de boas práticas e caminhos possíveis para ajudar a eliminar problemas que ainda estão muito presentes em alguns países do BRICS, como a escassez de energia e práticas não seguras de cozimento de alimentos. A assessora Mariana Espécie citou o exemplo do Programa Luz para Todos como uma prática que pode ser compartilhada com alguns países do grupo.
“A ideia desse relatório é ser esse repositório de políticas que podem ajudar vários desses países a enxergarem outros caminhos, inclusive até mobilizar outros atores importantes nessa discussão, como bancos multilaterais e organismos voltados para filantropia. Cada país vai poder implementar as soluções nos seus contextos específicos”, concluiu Mariana Espécie.