Prospecção do futuro na ciência e tecnologia guia 1ª reunião da cooperação dos BRICS sobre ciência, tecnologia e inovação
Seminário com representantes dos 11 países discute como a previsão tecnológica - o foresight - pode orientar o desenvolvimento científico no Sul Global.

Por Maiva D´Auria | maiva.dauria@brics.br
Com temas estratégicos como inteligência artificial, sustentabilidade, integração de big data e, foresight, metodologia de prospecção de futuros possíveis no âmbito da Ciência e Tecnologia e Inovação (CT&I), o Brasil avançou mais uma etapa na agenda de cooperação entre os países do BRICS. Nesta semana, o Ministério da Ciência, Tecnologia e Inovação do Brasil (MCTI) realizou o seminário Internacional de Prospecção Tecnológica: Oportunidades em CT&I para a Cooperação dos BRICS, em Brasília.
Ao longo do ano, estão previstos mais 13 encontros – presenciais e virtuais – para aprofundar o diálogo e alinhar estratégias comuns. Adriana Thomé, coordenadora-geral de Cooperação Multilateral do MCTI, destacou que, apesar das diferentes realidades dos países participantes, houve sintonia em torno de temas prioritários para o futuro da ciência e tecnologia.
"O que mais chamou a minha atenção foi a convergência de algumas temáticas — principalmente a questão da mudança do clima, que apareceu em várias falas. Isso mostra como diferentes países estão preocupados em desenvolver tecnologias que possam nos ajudar a enfrentar esse desafio global que afeta a todos. Essa preocupação é especialmente relevante neste ano, pois está diretamente ligada ao nosso próximo grande evento no Brasil, a COP30."
Para o diretor-presidente da CGEE (Centro de Gestão e Estudos Estratégicos), Fernando Rizzo, o encontro foi uma oportunidade para que cada país compartilhasse suas experiências na área de ciência, tecnologia e inovação, além de fortalecer o incentivo a parcerias multilaterais.
“Percebemos uma convergência entre os países. Enquanto alguns ainda estão em fase de definição de direções, estratégias e formas de implementação de seus projetos, outros já se encontram em estágios mais avançados. É o caso da Indonésia e da Rússia, que atuam ativamente na área de foresight tecnológico. A Rússia, por exemplo, conta com a HSE University — uma universidade de excelência que oferece programas robustos voltados para métodos matemáticos aplicados à modelagem de inteligência artificial”, destacou Rizzo.
A Indonésia foi representada por Boediastoeti Ontowirj, que trouxe o tema de foresight para o debate por meio do Plano Nacional de Desenvolvimento da Indonésia, que pontua etapas para a implementação da metodologia de foresight tecnológico.
O professor Alexander Sokolov, da Higher School of Economics (HSE), da Rússia, a principal universidade e instituto de pesquisa do país, destacou como a metodologia foresight é usada para alcançar uma visão de futuro coletiva. Ele citou algumas das conquistas do país no tema, trazendo para o debate as principais tendências que afetam o desenvolvimento da ciência e tecnologia global. Sokolov ainda falou sobre métodos e aplicações de foresight em inteligência artificial.
O workshop reuniu autoridades, especialistas e lideranças globais em ciência, tecnologia e inovação dos 11 países que hoje integram o agrupamento: Brasil, Rússia, Índia, China, África do Sul, Egito, Etiópia, Irã, Arábia Saudita, Emirados Árabes Unidos e Indonésia.
Foresight tecnológico
Durante o debate, o Brasil também apresentou sua visão sobre como a metodologia de foresight pode orientar políticas públicas e decisões estratégicas em ciência e tecnologia. Para Caetano Penna, diretor do CGEE, a prospecção tecnológica deve estar alinhada às necessidades concretas da população e ao papel transformador da ciência e da inovação
“A Foresight - ou prospecção em português - é uma análise do futuro. Nesse contexto, trata-se de um estudo para antecipar tendências e identificar ações que podemos tomar hoje para atingir os objetivos da ciência, tecnologia e inovação. Essencialmente, busca responder como podemos desenvolver tecnologias para resolver os problemas da sociedade, olhando para o futuro e identificando quais tecnologias precisam ser desenvolvidas.Temos que ter a visão de que a ciência e a tecnologia devem servir para resolver problemas concretos e melhorar as condições de vida”.
Atualmente, no Brasil, diferentes instituições e grupos de pesquisa têm se aprofundado na aplicação da metodologia de foresight em áreas como agricultura, espaço, aeronáutica, medicina tropical, saúde pública e prevenção de pandemias, indústria farmacêutica e de cosméticos, e petroquímica.
Entre os cases nacionais de destaque, estão os trabalhos conduzidos por duas instituições que aplicam de forma sistemática estudos prospectivos em seu planejamento anual e em suas visões de médio e longo prazo: a Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz), na área da saúde, e a Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária (Embrapa), que publica estudos de cenários desde os anos 1990, com foco na evolução tecnológica e em soluções inovadoras para o setor.
Cooperação e recomendações sobre foresight
Além do workshop, o CGEE está organizando um evento presencial em outubro de 2025, com o propósito de elaborar um documento oficial de recomendações sobre foresight. Este material buscará oferecer um conjunto de orientações estratégicas sobre as principais oportunidades dentro do tema, com foco em fomentar a cooperação entre os países do agrupamento. O objetivo é que ele também funcione como evidência para apoiar a coordenação mais estratégica da Cooperação Internacional em Ciência, Tecnologia e Inovação (CT&I) no contexto do BRICS, contribuindo para o fortalecimento das iniciativas conjuntas.