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Em uma das maiores reuniões do ano, juventude do BRICS avança em temas de cooperação

Na Cúpula, com a participação de países membros e parceiros, a juventude assina Memorando, propõe abordagem geopolítica que considere inclusão geracional e reforça agenda comum com foco em soberania, diversidade e inovação

Debates resultaram na assinatura de um Memorando de Entendimento. Foto: Isabela Castilho / BRICS Brasil
Debates resultaram na assinatura de um Memorando de Entendimento. Foto: Isabela Castilho / BRICS Brasil

Por Franciéli Barcellos de Moraes / BRICS Brasil

A renovação do multilateralismo virá com mudanças estruturais, como o fortalecimento das agendas do BRICS, mas também virá com mudanças geracionais profundas. A juventude precisa ter, mais que assento, voto na mesa das decisões internacionais, em temas que extrapolem agendas de esporte, diversidade e/ou cultura. É este o apelo que congregou distintas vozes, em diferentes idiomas, das juventudes do Sul Global, que reuniram-se em Brasília (DF) nesta segunda e terça-feira, 9 e 10 de junho, em função da 11ª Cúpula de Juventude do BRICS, a primeira após a expansão do grupo e uma das maiores reuniões do BRICS neste ano.

“A gente tem no Sul Global o maior percentual de jovens em termos absolutos no planeta. Isso significa que o futuro do planeta a ser construído, no presente, é feito pelas mãos dos jovens, em especial da juventude do Sul Global. E o BRICS é esse grupo que representa esses países e que pode promover, com sua inventividade, sua criatividade, seu inconformismo, uma forma diferente de ver as coisas e ver o mundo”, destacou Ronald Sorriso, secretário nacional de Juventude da Secretaria-Geral da Presidência da República.

Os debates, durante os dois dias, dividiram-se entre o prédio sede do BRICS Brasil e o Palácio Itamaraty, e avançaram, pela lógica do consenso progressivo, pela integração das juventudes do Sul Global por via institucional, o que resultou na assinatura do “Memorando de Entendimento sobre Cooperação em Assuntos da Juventude”. O foco está em pontos como promoção da ação climática; incentivo à cooperação humanitária; formação de uma rede de cooperação no campo da política de juventude entre os países do BRICS; e desenvolvimento de uma abordagem geral no âmbito de outros sistemas multilaterais relacionados à juventude. O documento ainda indica a criação de um grupo de trabalho para estabelecer indicadores mensuráveis que permitam avaliar o impacto dos objetivos do Memorando.

Uma vez que, congregar, em um mesmo espaço, autoridades de diferentes países do mundo é uma oportunidade única para a discussão de temas de alto nível, a Cúpula também foi oportunidade para a realização de reuniões bilaterais entre os representantes.

O primeiro dia de reunião aconteceu na sede do BRICS Brasil. Foto: Rafa Neddermeyer/Brics Brasil
O primeiro dia de reunião aconteceu na sede do BRICS Brasil. Foto: Rafa Neddermeyer/Brics Brasil

Países membros e parceiros em sintonia

O BRICS, ao reconhecer e incentivar a reunião destas juventudes, eleva a construção de uma identidade coletiva baseada em desafios similares e em potências compartilhadas. Esta é uma compreensão comum entre os países representados na Cúpula.

Debora John, do Ministério Federal de Desenvolvimento da Juventude da Nigéria, sublinhou este aspecto. “Nossa singularidade e diversidade, como Sul Global, são extremamente ricas e podem contribuir com muitas coisas, devemos falar sobre soberania cognitiva. Nosso papel é olhar para dentro, para o que temos e para o que podemos melhorar, para fortalecer áreas como a educação, a inovação e afins, porque nossa singularidade é valiosa”, disse ela, que ainda expôs a importância de os jovens aceitarem desafios e demonstrarem interesse pelas questões de governança, ressaltando que muitos ainda acreditam que esse espaço é exclusivo de pessoas mais velhas.

Nitesh Mishra, do Ministério dos Assuntos da Juventude e Esportes da Índia, fez coro à colega nigeriana, ao afirmar que “os jovens são as pessoas que irão definir o futuro. Quando falamos de Sul Global, as juventudes percebem que enfrentam o mesmo problema e são estes que darão a solução a estas questões”.

"Free, free, Palestine"

Outro assunto que balizou os debates na Cúpula foi a questão do genocídio na Palestina. A juventude participante endossou a posição da presidência brasileira sobre o tema. A reunião acontece no contexto em que o Ministério das Relações Exteriores do Brasil (MRE) acompanha com atenção as ações de Israel, após a interceptação, pela pela marinha israelense, da embarcação Madleen, que se dirigia à costa palestina para levar itens básicos de ajuda humanitária à Faixa de Gaza.

Na última Reunião de Chanceleres do BRICS, em maio deste ano, o ministro do MRE, embaixador Mauro Vieira, já havia condenado as ações de Israel. “A situação devastadora nos Territórios Palestinos Ocupados continua sendo uma fonte de profunda preocupação. A retomada dos bombardeios israelenses em Gaza e a obstrução contínua da ajuda humanitária são inaceitáveis. [...] É necessário assegurar a retirada total das forças israelenses de Gaza, assegurar a libertação de todos os reféns e detidos e garantir a entrada de assistência humanitária”, declarou o embaixador, apontando ainda para a defesa da criação de um Estado da Palestina independente e viável.

"A gente percebe no cenário mundial, principalmente agora, com o conflito que se dá na Palestina, que ele é apoiado por hegemonias que estão no poder há muitos anos. O BRICS já é percebido como um desestabilizador dessa hegemonia. Então, esse papel de não falar apenas sobre a hegemonia econômica, mas também sobre essa hegemonia política, onde se pode negar ou ignorar os tratados e acordos que já foram assinados, é muito importante. E aqui a juventude está dizendo, de forma muito enérgica: não vamos tolerar isso", colocou Maynara Nafe, delegada da Cúpula de Juventude do BRICS, que atua como secretária de Relações Institucionais da Federação Árabe Palestina do Brasil (FEPAL).

O tema também deverá integrar o arcabouço de debates da Cúpula de Líderes, que acontece no próximo mês no Rio de Janeiro (RJ).

A 7ª Cúpula de Energia da Juventude teve como palco o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Foto: Rafa Neddermeyer/Brics Brasil
A 7ª Cúpula de Energia da Juventude teve como palco o Ministério da Justiça e Segurança Pública. Foto: Rafa Neddermeyer/Brics Brasil

Demais agendas

Na compreensão que presença ativa das e dos jovens na dinâmica do BRICS se torna motor de inovação, ao colaborar para a renovação do debate político e para o fortalecimento da legitimidade do grupo, tornando-o mais representativo, dinâmico e preparado para os desafios das conjunturas impostas, a Secretaria Nacional da Juventude e o Conselho Nacional de Juventude promoveram outras atividades para além da Cúpula. 

Na segunda-feira (9), concomitantemente, aconteceu a 7ª Cúpula de Energia da Juventude do BRICS, na qual reuniram-se jovens formuladores de políticas e profissionais de energia dos países do agrupamento. Os debates estiveram em torno de temas como combustíveis sustentáveis para adaptação climática; financiamento de transições energéticas justas; combate à pobreza energética; e avanços em energia de baixo carbono. O encontro deu estrutura ao Panorama Energético da Juventude BRICS 2025, a ser lançado oficialmente durante a COP30, em novembro.

Anteriormente, no mês de maio, foi a vez dos “Seminários Regionais Temáticos”, que, com mais de duas mil inscrições, discutiram temas como sustentabilidade, saúde, esportes, tecnologia, educação, entre outros. Foram cinco edições virtuais, contemplando cada uma das regiões brasileiras. Eleger as representações regionais para a Cúpula, fortalecer as prioridades da presidência brasileira do BRICS, dentre elas a de participação social no escopo do pilar People-to-people (P2P), e enriquecer a elaboração do Memorando assinado nesta terça-feira (10), foram os objetivos alcançados.