Nomadismo digital e turismo sustentável são destaques da Declaração do Cerrado
Ministros do Turismo dos países do BRICS aprovaram nesta segunda-feira (12), no Palácio Itamaraty (DF), uma declaração conjunta que reconhece o turismo como ferramenta estratégica de estímulo ao crescimento econômico, à preservação cultural e ao desenvolvimento sustentável no Sul Global.

Por Franciéli Barcellos de Moraes / francieli.moraes@presidencia.gov.br
Em 2024, o setor turístico alcançou rendimentos na casa dos 11 trilhões de dólares, o que representou 10% do Produto Interno Bruto (PIB) global e gerou cerca de 348 milhões de postos de trabalho, o equivalente a 29 cidades de São Paulo empregadas no ramo. Estes dados do Conselho Mundial de Viagens e Turismo (na sigla em inglês, WTTC) dão dimensão da relevância das discussões sobre turismo na agenda internacional, em especial pela perspectiva dos países que integram o BRICS. No Sul Global, o turismo atua não apenas como uma ferramenta estratégica de estímulo ao crescimento econômico, mas também à preservação cultural e ao desenvolvimento sustentável.
Neste sentido, é que os ministros e altas autoridades de Turismo do grupo aprovaram, nesta terça-feira (12), a Declaração do Cerrado, em que marcaram seis áreas chave para cooperação entre os países: infraestrutura, diversificação da oferta turística, qualificação profissional, cooperação público-privada, financiamento e incentivos, e promoção turística.
“Vamos juntos — governos, empresários, lideranças políticas e comunidades locais — congregar esforços para permitir que o turismo seja peça-chave na superação dos desafios globais e na promoção da paz, da solidariedade e da justiça social, gerando prosperidade e melhores condições de vida às populações de todo o planeta”, destacou o ministro do Turismo do Brasil, e coordenador dos trabalhos, Celso Sabino
A Declaração do Cerrado pode ser lida na íntegra neste link.
Fortalecimento do turismo em pequenas cidades e comunidades na perspectiva internacional
ÁFRICA DO SUL - De acordo Maggie Sotyu, vice-ministra do Turismo da República da África do Sul, o governo está trabalhando em parceria com os municípios para empoderar as comunidades locais, com foco especial nas pequenas e médias empresas (PMEs). A estratégia inclui reunir empreendedores, especialmente os de áreas rurais, para estabelecer um canal direto de comunicação, ouvindo suas necessidades e sugestões. A vice-ministra destacou que o apoio será sustentável, indo além do simples repasse de recursos, com monitoramento constante do uso dos fundos e da gestão dos empreendimentos, garantindo que o desenvolvimento seja efetivo e duradouro.
“O que fazemos, por exemplo, é tentar obter financiamento para o desenvolvimento de habilidades e, então, capacitar especialmente os jovens. Nós os capacitamos sobre como administrar esses negócios, especialmente no que diz respeito à hospitalidade e à culinária. Trabalhamos em conjunto com o setor privado para garantir que consigam empregos e, caso não, os auxiliamos a abrir seu próprio negócio”, complementou Sotyu.
EMIRADOS ÁRABES UNIDOS - Segundo Abdelrahman Hassan Almuaini, secretário do Ministério da Economia dos Emirados, a indústria do turismo é um dos pilares fundamentais para a geração de empregos na federação, representando mais de 12% do PIB local. Ele destacou que o fortalecimento do setor, especialmente da indústria hoteleira, tem impacto direto na criação de novas vagas, pela demanda por profissionais em áreas como serviços de hospedagem, alimentação e infraestrutura turística.
“Sediar a 28ª Conferência das Nações Unidas sobre Mudança do Clima (COP28) foi um dos motivos para sermos sustentáveis, portanto, estamos ansiosos e garantindo que todo o envolvimento da indústria do turismo apoie a sustentabilidade. Aqui, pudemos analisar que o governo brasileiro tem diferentes iniciativas para proteger e promover o turismo na Amazônia, e é isso que também estamos fazendo. Precisamos proteger o meio ambiente, garantir a sustentabilidade e, em seguida, promover o turismo”, disse ele.
RÚSSIA - De acordo com Nikita Kondratyev, diretor-geral para Turismo da Federação da Rússia, o governo do país está empenhado em integrar o orçamento regional ao sistema federal a fim de apoiar a gestão de turismo por povos indígenas e pela população de pequenas comunidades, contribuindo para a geração de novos empregos. Além disso, destacou um esforço contínuo para fortalecer pequenas e médias empresas ligadas ao turismo, com o objetivo de impulsionar o setor. Essas iniciativas fazem parte de um projeto nacional de desenvolvimento do turismo, que inclui ações voltadas à melhoria da infraestrutura turística e ao crescimento sustentável das pequenas cidades.
“Então, por exemplo, quando falamos sobre investimento em estradas, em infraestrutura, também falamos, em primeiro lugar, não sobre grandes cidades, mas sobre as pequenas localidades. Em geral, não temos problemas com grandes cidades, mas todos os países têm problemas com cidades pequenas. Assim, tentamos investir mais dinheiro e apoiar o investimento nessas pequenas localidades”, colocou o diretor-geral russo
Turismo digital e inclusivo
Em 2023, os nômades digitais (de forma resumida, pessoas que trabalham de forma remota) somavam 35 milhões e a estimativa é que cheguem a um bilhão daqui dez anos. É o que aponta o relatório global da Fragomen, empresa especializada em migração. Desta forma, um Relatório sobre Estratégias para Nômades Digitais compôs os entregáveis do grupo de trabalho, que se debruçou em quatro dimensões: mapeamento de destinos, políticas de vistos, infraestrutura e serviços, e esforços de promoção.
O relatório enfatiza que conectividade eficiente, segurança e oferta de lazer são essenciais para atrair este nicho e destaca destinos no Brasil, Etiópia, Emirados Árabes Unidos e Índia como referência às demais nações. A conclusão indica que uma ação coordenada nos próximos anos será vital para aproveitar o turismo de nômades digitais como catalisador do crescimento econômico inclusivo e resiliente nos países do grupo.
Turismo sustentável
Outro relatório entregue trata de Turismo Sustentável, Resiliente e Regenerativo, e posiciona o turismo como uma força vital para o progresso econômico, social e ambiental no âmbito do BRICS, oferecendo uma análise comparativa das estratégias nacionais para identificar boas práticas e desafios comuns. O estudo destaca a importância da troca de conhecimento e de soluções colaborativas para fortalecer a capacidade do setor de se adaptar aos desafios globais, incluindo a mudança do clima e a instabilidade econômica. O Sustainable Travel Report, produzido pela plataforma Booking observou que, em 2023, 76% dos viajantes estabeleceram a meta de viajar de forma mais sustentável nos próximos anos.