Negociadores do BRICS se reúnem a partir de hoje (30), no Rio de Janeiro (RJ)
Antecipando a Cúpula de Líderes, negociadores políticos do grupo se encontram para alinhar compromissos sobre combate às doenças socialmente determinadas, governança da inteligência artificial e financiamento climático. Foco está em soluções concretas para os desafios estruturais do Sul Global

Na reta final dos encontros até a Cúpula de Líderes, que ocorre nos dias 6 e 7 de julho, no Rio de Janeiro (RJ), quem voltará a se encontrar são os sherpas (negociadores políticos) dos países membros do BRICS, em reunião que começa hoje, 30/6, também na capital fluminense, e continua até 4 de julho, antecipando alguns dos debates que também balizarão os chefes de Estado e governo na próxima semana.
Nesta terceira reunião, os temas em destaque serão saúde, inteligência artificial e mudança do clima. Quem coordena os trabalhos, como sherpa brasileiro, é o embaixador Mauricio Lyrio, já experiente nesta posição, uma vez que, no último ano, também atuou como sherpa, no contexto da presidência brasileira do G20. No destaque sobre mudança do clima, Lyrio ocupa cargo de prominiência. É Secretário de Clima, Energia e Meio Ambiente do Ministério das Relações Exteriores (MRE), posto anteriormente ocupado pelo embaixador André Corrêa do Lago, presidente da COP30.
"A diplomacia, por meio da cooperação internacional, facilita o acesso a recursos e tecnologias, como as vacinas no BRICS, trazendo benefícios concretos para as pessoas. A inteligência artificial também pode ser uma aliada para combater desafios como a mudança do clima e melhorar a saúde, sendo um tema em que a política externa brasileira atua para gerar resultados diretos e impactantes na vida cotidiana das pessoas", colocou o sherpa, sobre o entrelaçamento dos assuntos, em entrevista exclusiva ao BRICS Brasil ao início de seus trabalhos. Na oportunidade, Lyrio também frisou o compromisso da política externa brasileira em tornar as negociações mais objetivas.
Temas prioritários
SAÚDE — Os ministros de Saúde do BRICS aprovaram, neste mês, uma declaração final em que foco é uma recomendação para criação de uma Parceria para Eliminar Doenças Socialmente Determinadas A Declaração prevê, além da ampliação de cooperação para vacinas, que a "aliança" entre os países do Sul Global funcione como um "catalisador para ações integradas e multissetoriais". Os ministros acreditam que o compromisso internacional auxiliará para acelerar "o caminho rumo à equidade em saúde em todo o mundo". Segundo a Organização Mundial da Saúde (OMS), os determinantes sociais da saúde são as condições em que as pessoas nascem, crescem, vivem, trabalham e envelhecem. Fatores como fome, pobreza e acesso precário à moradia estão entre as principais situações que impactam diretamente a saúde da população.
INTELIGÊNCIA ARTIFICIAL — Sob a presidência brasileira, o grupo trabalha para criar uma governança internacional que garanta que a inteligência artificial seja usada de maneira ética, a resolver problemas globais, como a pobreza, déficits educacionais, mudança do clima e doenças. Os ministros de Ciência, Tecnologia e Inovação (CTI) do BRICS assinaram, na última semana, uma declaração final que reforça a importância de ampliar o acesso e o domínio de tecnologias e inovações pelos países do Sul Global, tradicionalmente concentradas nas nações do Norte Global. O documento também define a ampliação da cooperação entre os membros para criar linguagens tecnológicas mais acessíveis e infraestrutura que possibilite explorar novas ferramentas, como a Inteligência Artificial (IA).
MUDANÇA DO CLIMA — Ao fim do último mês, foi assinado, entre representantes de alto nível do BRICS, um compromisso ambicioso. O texto inédito aponta caminhos para concretizar ações contra a mudança do clima nos países do Sul Global. "Pela primeira vez vai ter um documento que orienta uma ação comum e coletiva do BRICS na área de financiamento climático envolvendo, por exemplo, reformas de bancos multilaterais, um maior financiamento concessional, mobilização também de capital privado e outras questões regulatórias também para assegurar que os fluxos possam fluir para os países em desenvolvimento", explicou a embaixadora Tatiana Rosito, secretária de Assuntos Internacionais do Ministério da Fazenda.
Já no escopo de ministros do Meio Ambiente, aprovou-se uma declaração final que reforça a importância do "multilateralismo ambiental" e da "governança global equilibrada e inclusiva" para alcançar os objetivos em comum na proteção da flora e da fauna.
Reuniões anteriores
A primeira Reunião de Sherpas, em fevereiro, no Palácio Itamaraty, Brasília (DF), foi marcada pela aprovação unânime dos temas centrais propostos pelo Brasil Destaque ao ponto de revisão da Parceria Estratégica na Área Econômica, um plano de cinco anos que passa por renovação sob a liderança brasileira. O presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, participou da reunião, na qual salientou a importância do multilateralismo a uma agenda global mais equilibrada.
O destaque da segunda reunião, já no Rio de Janeiro (RJ), em abril, esteve na participação inédita da sociedade civil. A sessão conjunta entre sherpas e lideranças do pilar "People-to-People" (P2P) do BRICS representou uma mudança significativa na forma como o grupo incorpora as demandas sociais em seu processo decisório e resultou em consensos como de que o Novo Banco de Desenvolvimento (NDB, na sigla em inglês) deve ser principal agente de financiamento da industrialização do Sul Global.